A vida é difícil e ficarás melhor se praticares fazer coisas difíceis – tais como fazer o teu corpo ficar propositadamente desconfortável.
Este é um artigo traduzido por Sandra Oliveira. O original está aqui.
No ano passado, caí de cara mais vezes do que em todos os anos anteriores da minha vida juntos. Com o tempo, o meu corpo ficou salpicado de pequenas marcas enquanto eu caía uma e outra vez.
Para ser justa, todas as feridas foram autoinfligidas. Eu estava a trabalhar no meu corvo, uma pose de ioga que envolve equilibrar as mãos enquanto empoleiras os joelhos nos tríceps, a centímetros do nariz. Levei meses de prática regular para conquistar o meu medo de cair o suficiente para tirar os dois pés do chão.
Fazê-lo, finalmente, soube-me a uma conquista de várias maneiras. A perseverança nunca foi natural para mim, mas nos últimos dois anos, à medida que eu comecei a praticar yoga e a correr, notei que isso está a mudar – nos meus treinos e em outras áreas da minha vida. Também fico frustrada com menos facilidade e abordo projetos difíceis com mais energia e menos ansiedade do que costumava. Talvez seja apenas uma consequência de envelhecer e ser mais sábia, mas suspeito que o meu aumento na prática de exercício regular também tenha desempenhado um papel.
Não é exatamente um segredo que o exercício pode ter um efeito positivo na saúde mental e física. A investigação destacou o seu potencial em aliviar os sintomas de depressão e ansiedade, elevar o humor e melhorar o sono. Talvez menos conhecido – mas não menos real – seja o papel que o exercício pode desempenhar em tornar-nos mais pacientes, mais resilientes e melhores na resolução de problemas.
O exercício pode ser uma ferramenta para o autoaperfeiçoamento, se optares por tratá-lo como tal.
Jacob Ballon, MD, professor clínico associado de psiquiatria e ciências do comportamento na Universidade de Stanford, associa o exercício ao trabalho realizado em terapia. “Pensamos nisso como sendo um microcosmo pelo resto da vida [de um paciente]”, diz ele. “O que acontece na terapia tende a repetir-se fora da terapia.” Da mesma forma, levares o teu corpo propositadamente ao ponto de desconforto é a implementação de uma ideia simples, mas poderosa: a vida é difícil, e estarás melhor se praticares fazer coisas difíceis. A pesquisa sobre atividade física e o cérebro confirma isto de algumas maneiras diferentes. Investigadores do Lazar Lab, da Universidade de Harvard, que estudam como o yoga e a meditação afetam o cérebro, descobriram que a prática regular destas atividades pode aumentar a massa cinzenta tanto no hipocampo (a área responsável pela aprendizagem e pela regulação emocional) quanto na junção temporo-parietal (responsável pela compaixão e tomada de perspectiva). O exercício aeróbico tem sido associado a níveis aumentados do Factor Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), uma proteína que ajuda a construir conexões neurais e demonstrou ter um efeito protetor contra o stresse.
Paul Crockett, treinador de corrida da Marathon Coalition em Boston e co-fundador de uma empresa de tecnologia educacional, descreve o treino de maratona como “ficar confortável em estar desconfortável”. Ele diz que o treino para maratonas o ajudou a permanecer firme durante os altos e baixos da gestão de uma startup: “Ultrapassar alguns dos treinos mais difíceis que já fiz, transportou-se para superar desafios no resto da minha vida.”
O exercício também pode aprimorar os processos neurológicos que facilitam a aprendizagem de novas habilidades. Douglas Noordsy, MD, diretor de psiquiatria desportiva da Universidade de Stanford, observa que o exercício pode aumentar a plasticidade sináptica ou a capacidade do cérebro de se adaptar a novos usos ao longo do tempo, o que é importante para a aprendizagem e memória.
Uma ressalva: para colher os efeitos do treino cerebral de um treino, é bom pensar nele como uma experiência positiva, diz Jeffery Christle, PhD, fisiologista do exercício clínico de Stanford. A satisfação cria um ciclo de feedback positivo: quando obténs prazer ou satisfação por exercer e desenvolver novas capacidades, continuas a fortalecer essas habilidades. Se estiveres a ultrapassar um sprint difícil numa bicicleta e sentires uma onda de orgulho no final, por exemplo, a tua mente criará outro vínculo entre resiliência e sentimentos de recompensa, e esse vínculo irá intensificar-se a cada nova instância.
É por isso que repetição e tempo são fundamentais para ver essas mudanças positivas, de acordo com Christle. “Quando começas a olhar para a máquina atrás da cortina”, ele diz, “muitas coisas parecem programáveis em nós”.
Pessoalmente, acho isso encorajador – que o exercício possa ser uma ferramenta para o auto-aperfeiçoamento, se optares por tratá-lo como tal. A pesquisa não é definitiva o suficiente para estabelecer um vínculo claro entre exercício e comportamento – não posso dizer, por exemplo, que praticar o pino foi o que me deixou corajosa o suficiente para pedir um aumento no trabalho – mas a ideia ecoa o que treinadores, instrutores de spin e sargentos dizem há anos: como fazes uma coisa é como fazes tudo. Uma cama meticulosamente preparada é a preparação para responsabilidades de maior risco; não se trata de cantos limpos, mas de praticar a atenção aos detalhes.
Também podes usar os teus exercícios para descobrir as habilidades mentais em que precisas trabalhar. O que fazes quando as coisas ficam difíceis? Os desafios inspiram-te ou deixam-te com raiva? Esquivas-te de coisas que não sabe fazer? Ao prestares atenção aos teus padrões de conexão durante o exercício, podes aprender a realizar várias tarefas ao mesmo tempo, ajustando os comportamentos que te ajudam a crescer enquanto te manténs fisicamente saudável.
NT: Se quiseres ler mais sobre os benefícios do exercício podes ler aqui e aqui.