A doença de Alzheimer e a ligação ao açúcar

Artigo traduzido por Sandra Oliveira. O original está aqui.

Chamam-lhe diabetes tipo 3 – por um bom motivo.

Mais de 80% das pessoas com doença de Alzheimer ou têm diabetes tipo 2 ou níveis anormais de açúcar no sangue. Tão perto está a ligação entre as duas condições que os cientistas optaram por se referirem ao Alzheimer como “diabetes tipo 3”.

As evidências que ligam o Alzheimer à diabetes são convincentes e centram-se na insulina. A insulina é uma hormona secretada e libertada pelo pâncreas quando os alimentos são ingeridos, principalmente hidratos de carbono.

Os hidratos de carbono são decompostos no intestino em unidades de glicose antes de entrar no sangue. É assim que o açúcar no sangue sobe.

Os níveis de açúcar no sangue devem ser rigorosamente regulados. Demasiado, ou muito pouco, são ambas situações potencialmente perigosas. Quanto mais glicose no sangue, mais o pâncreas produz insulina para baixar a glicose.

Resistência à insulina: quando o açúcar no sangue dá para o torto

E é aí que tudo pode começar a correr mal.

O corpo humano não foi projetado para lidar com um dilúvio regular de açúcar. Ele só consegue lidar com um tanto disso antes de desenvolver sinais de não conseguir lidar com essa carga toda.

A resistência à insulina é um desses sinais. É descrita como uma condição “pré-diabética” que surge quando o metabolismo da insulina corre mal. Basicamente, isso significa que a insulina começou a perder o seu efeito, e a glicose permanece no sangue em vez de ser processada normalmente.

O corpo, sentindo que ainda há muito açúcar no sangue, bombeia ainda mais insulina num esforço para lidar com isso, mas com pouco ou nenhum efeito. Se isso persistir por tempo suficiente, a resistência à insulina leva à diabetes.

A razão para o desenvolvimento de resistência à insulina é bastante simples. Uma dieta implacável de comidas e bebidas açucaradas, hidratos de carbono refinados (pão, arroz, batatas fritas, bolos, bolachas, doces e assim por diante) acaba por cobrar o seu preço.

Esta forma extrema de dieta não é natural, mas de alguma forma é agora considerada normal.

Da diabetes tipo 2 à diabetes tipo 3

Como é que isto se relaciona com a doença de Alzheimer? Altos níveis de insulina podem interferir nos neurónios e afetar a função cognitiva, incluindo a memória e a concentração. Maior exposição à glicose também significa maior suscetibilidade a um processo conhecido como glicação.

O diabetes mellitus tipo 2 (diabetes tipo 2) tem sido demonstrado estar associado à demência

A glicação é a ligação entre diabetes e Alzheimer. É um processo pelo qual certas proteínas são danificadas quando expostas a altos níveis de glicose. Este processo de glicação cria proteínas conhecidas como produtos finais de glicação avançada (AGEs).

Estes AGEs podem impedir que os neurónios funcionem corretamente. Pesquisas descobriram que os cérebros de pessoas com doença de Alzheimer têm altos níveis destes AGEs, em comparação com pessoas sem a doença. Os AGEs contribuem para a formação de placas amilóides – uma característica dos cérebros de pessoas com Alzheimer.

Em suma, uma dieta interminável de alimentos açucarados e hidratos de carbono refinados dá origem à resistência à insulina, que pode, em última análise, dar origem à diabetes tipo 2 e, mais tarde, à doença de Alzheimer.

Sabe-se disso desde a década de 1990, quando a literatura começou a emergir, mas só agora começam a “pingar” estas informações. O termo “diabetes tipo 3” foi cunhado pela primeira vez por investigadores que publicaram no Journal of Alzheimer’s Disease em 2005. Uma massa crítica foi alcançada quando a revista New Scientist apresentou o tópico na capa da edição de 1 de setembro de 2012.

A dieta cetogénica, Alzheimer e diabetes tipo 3

A ligação entre o açúcar no sangue e a demência pode soar alarmante, mas oferece enorme esperança. Isto porque a diabetes tipo 2 é uma doença do estilo de vida e, portanto, muito evitável.

Com mudanças dietéticas adequadas, pode reduzir as suas hipóteses de desenvolver diabetes tipo 2 e, simultaneamente, reduzir as suas hipóteses de desenvolver diabetes tipo 3.

Pode ter ouvido falar da dieta cetogénica. Foi originalmente (e ainda é) usada para tratar pessoas com epilepsia. De facto, é considerada uma “terapia comprovada para epilepsia resistente a medicamentos”. Aqui está a pista – a epilepsia é uma desordem cerebral.

A dieta funciona extremamente bem. Basicamente, é uma dieta rica em gorduras e muito baixa em hidratos de carbono. Pela sua natureza, restringe muito a quantidade de insulina e, portanto, a glicose no sangue. Sem hidratos de carbono para queimar como combustível, o corpo muda para a produção, a partir de gordura, de algo chamado corpos cetónicos.

O exemplo mais notável de um tratamento dietético com eficácia comprovada contra uma condição neurológica é a dieta cetogénica, com alto teor de gordura e baixo teor de hidratos de carbono (KD).”

Não se trata apenas de epilepsia. A dieta cetogénica – ou baixa em hidratos de carbono – também foi considerada terapêutica no tratamento de pessoas com défice cognitivo ligeiro (DCL). O DCL é um estágio pré-Alzheimer.

Os cientistas deram a 23 pessoas idosas ou uma dieta rica em hidratos de carbono ou baixa em hidratos de carbono por seis semanas. No final do estudo, aqueles com a dieta pobre em hidratos de carbono experimentaram melhora no desempenho da memória verbal, juntamente com reduções no peso e na circunferência da cintura.

Estes resultados indicam que o consumo muito baixo de hidratos de carbono, mesmo a curto prazo, pode melhorar a função da memória em adultos mais velhos com risco aumentado para a doença de Alzheimer“.

Como funciona a dieta cetogénica? Há duas explicações possíveis para estes resultados encorajadores. Primeiro, o alto nível de gordura na dieta repara os danos às células cerebrais. As cetonas produzidas a partir da gordura fornecem um combustível alternativo ao cérebro, em vez da glicose.

A segunda possibilidade é que a ausência de açúcar e de hidratos de carbono refinados na dieta inicie o processo de cura e previna mais danos.

Aqui está a outra coisa fantástica sobre a dieta cetogénica. As cetonas são produzidas no fígado, seja pela gordura que come ou pela gordura armazenada. Então, quando muda para uma dieta muito baixa em hidratos de carbono, o seu corpo começa a queimar as suas reservas de gordura e, consequentemente, perde peso.

Uma dieta cetogénica não reduz apenas a secreção de insulina e o seu risco de desenvolver Alzheimer, mas também promove a perda de peso. Isto é um excelente negócio.

Mantenha as coisas simples

Se é saudável, mas quer apenas reduzir o risco de desenvolver diabetes e Alzheimer mais tarde, não precisa seguir a dieta cetogénica com rigor. Basta cortar todos os hidratos de carbono desnecessários e não saudáveis, especialmente qualquer coisa com adição de açúcar, incluindo refrigerantes. Mesmo a variedade sem açúcar, adoçada com adoçantes artificiais, faz estragos no seu açúcar no sangue.

Ninguém precisa de açúcar. Ninguém precisa de biscoitos, bolos, doces, batatas fritas e refrigerantes. O seu corpo só precisa de comida verdadeira e saudável. Você precisa de muita proteína – carne, peixe, ovos, queijo – e muitos vegetais para acompanhar essa proteína.

As necessidades dietéticas humanas são surpreendentemente simples.

Outra coisa que pode fazer é evitar lanches entre as refeições. Além de ser supérfluos para as necessidades alimentares, lanchar significa que a produção de insulina é constantemente estimulada. Ao abster-se de petiscar você dá um descanso ao seu pâncreas, e ao seu corpo a possibilidade de começar a queimar gordura como combustível.

O Alzheimer é uma doença complexa e existem muitas causas possíveis. Mas, com os casos de diabetes tipo 2 e Alzheimer a aumentar simultaneamente, e num ritmo alarmante, fazer mudanças na dieta que controlam a glicose e a secreção de insulina tem que ser óbvio para qualquer pessoa que queira manter uma boa saúde quando for idoso.

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